terça-feira, novembro 25, 2025

TOPONÍMIA ALBICASTRENSE NO SÉCULO XVI - (I)

SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA TOPONÍMIA 
ALBICASTRENSE NO SÉCULO XVI


Recordar um excelente trabalho de Manuel da Silva Castelo Branco, sobre a toponímia albicastrense do século XVI. Estudo que bem merce bem ser conhecido pelos albicastrenses de hoje. Nesta primeira publicação, pode ler-se  a introdução do livro da autoria no nosso saudoso Ernesto Pinto Lobo, responsável pela saída do livro.
                            
O ALBICASTRENSE

segunda-feira, novembro 17, 2025

IGREJA DA MISERICÓRDIA VELHA – (5/5)

(Ultima) 
V- Na casa do lado do Norte da Igreja de Santa Isabel, que foi hospital do sexo masculino, foram instaladas duas escolas de ensino secundário: a Escola de Ensino Mútuo, criada por decreto de 15 de Novembro de 1834 e o Liceu Nacional, instituído por decreto de 17 de Novembro de 1836. Na casa do lado do Norte da Igreja de Santa Isabel, que foi hospital do sexo masculino, foram instaladas duas escolas de ensino secundário: a Escola de Ensino Mútuo, criada por decreto de 15 de Novembro de 1834 e o Liceu Nacional, instituído por decreto de 17 de Novembro de 1836. 
Estes dois estabelecimentos de ensino permaneceram no antigo hospital até demolição do edifício que se efetuou pouco tempo depois de 1850 por ele ameaçar ruína. O local ficou sendo um largo público e ainda hoje é conhecido pela designação de Largo da Escola.
Na casa do lado sul, que foi hospital do sexo feminino, esteve aquartelado, em 1834, uma companhia da Guarda Nacional, mais tarde esteve ali instalada uma escola primária do sexo feminino criada por decreto de 10 de Março de 1840 e depois funcionou ali o Tribunal Judicial até 1935, data em que foi transferido para o antigo edifício da Câmara Municipal situado no Largo da Sé. 
Na Igreja da Rainha de Santa Isabel existiram as confrarias da Ordem Terceira de S. Francisco e de Santo António. Após a transferência da Misericórdia para o convento da Graça, o santo lisbonense, que tinha outrora a sua imagem no altar colateral do lado do Evangelho, passou a ser o orago, dando origem à designação de Igreja de Santo António pela qual é hoje conhecido o velho templo consagrado à Rainha Santa. Durante a reedificação da Igreja, iniciada no século XVIII e terminada em meados do século XVIII, deu-se a transição do estilo arquitetónico do Renascimento para o barroco. 
A fachada principal evidencia esta transição apresentando ornatos que caracterizam os dois estilos sem que, todavia esta combinação afete a beleza das proporções e a elegância da decoração. Remata o frontão da fachada principal uma imagem da Rainha Santa Isabel e sobre a empena da capela-mor há uma imagem de S. Francisco. Ambas as esculturas, talhadas no granito regional de difícil trabalho, são relativamente são relativamente perfeitas. 
A fachada lateral do lado do Norte, posta a nu com a demolição da antiga enfermaria do sexo masculino do hospital da Misericórdia, efetuada em meados do século XIX, apresenta um espeto deselegante que não se harmoniza com o da fachada principal. 
Interiormente a igreja é dotada de dois altares colaterais além do altar-mor. 
O arco que separa a nave da capela-mor é de volta plena e esta apoiada sobre pilastras de granito. Os tetos de madeira da capela-mor e da nave são em abóbada e ostentam uma primorosa pintura do século XVIII que é uma notável preciosidade artística digna de ser cuidadosamente conservada. 
A reedificação deste templo, que foi primitivamente da invocação de uma venerável santa portuguesa e tem por orago um não menos venerável santo português. Foi feita nos séculos XVII e XVIII com dificuldades quase insuperáveis, com penosos sacrifícios da Misericórdia e da população de castelo Branco. Deve-se portanto, evitar a sua ruína, mantendo-a aberta ao culto e mandando proceder às indispensáveis obras de conservação.  
FIM
                Recolha de dados: “Castelo Branco na História e na Arte
                                           ”de Manuel Tavares dos Santos
                                                        O ALBICASTRENSE

sexta-feira, novembro 07, 2025

IGREJA DA MISERICÓRDIA VELHA – (4/5)

 (Continuação)
IV -  Todas estas diligências que fiz e respeito que me deu o Reverendo Prior de S. Tomé desta cidade, juro passarem na verdade pelo juramento dos Santos Evangelhos e pelo Hábito de Christus que professo”.
Lisboa, 9 de Janeiro de 1662. Miguel Achioly da Fonseca Castelo Branco.
Em 1620, sendo Provedor da Misericórdia o Bispo da Guarda D. Nuno de Noronha, foi lavrado um auto do qual consta que a Mesa fez vistoriar o edifício da rua de Ega, onde estava instalado o Hospital dos Convalescentes, por dois médicos que a declararam imprópria para nela poderem convalescer e alcançar saúde os enfermos e que muito melhor se fariam e mais acomodados ficariam se se fizessem em bom sitio”. O auto de vistoria foi enviado ao Rei D. Filipe I com uma pedição da Mesa para que lhe fosse concedido o rendimento das condenações e penas impostas pelo juiz de Fora, pelo espaço de cinco anos, para aplicar na edificação de casas próprias para Hospital junta da Igreja de Santa Isabel. O rei, por alvará de 3 de Março de 1620,fez as seguintes concessões:
Que o dito Hospital se possa mudar donde ora está para onde eles, suplicantes, têm assentado. E outros sim hei por bem de lhes fazer mercê por esmola que as pessoas que o Corregedor e Juiz de Fora da dita vila em seus juízes fizeram e condenarem causas as apliquem para as obras do dito Hospital por tempo de cinco anos, as quais penas farão pagar com brevidade, sem duvida nem embargo algum visto a necessidade que disse há.”
Com as receitas obtidas durante os cinco anos não consegui, a Misericórdia acabar as obras projetadas. Em 1735 a Mesa, pediu ao Rei D. João V, que lhe fosse concedido o subsidio do real de água da Câmara, para a conclusão das obras da reedificarão da Igreja e do Hospital anexo. Foi-lhe concedido esse subsidio durante quatro anos. Durante o lapso de tempo em que a Misericórdia recebeu as importâncias provenientes do imposto do real de água não consegui ainda ultimar as obras em curso. 
Em 1740, sendo Provedor Manuel da Fonseca Coutinho, a Mesa fez uma nova pedição ao Rei, dizendo que sem embargo de zelo e cuidado com que se tinha trabalhado na dita obra, ainda esta se não achava acabada e se tinha despendido não só a importância do dito real de água, que era de 1.414$104 réis, mas também a quantia de 1.747$800 réis de rendas da Misericórdia".
Alegando também a Mesa que a Casa não devia gastar nas obras o que era destinado aos doentes, solicitava ao rei a continuação do subsídio do real de água e, por alvará de 13 de Dezembro de 1740, foi-lhe deferido a pretensão. Conseguiu assim, a Misericórdia, a almejada conclusão das obras de reedificação da igreja e de construção do hospital, que haviam arrastado durante mais de um século.
De ambos os lados da igreja foram construídas enfermarias, destinando-se as do lado do Norte aos doentes de sexo masculino e as do lado Sul aos do sexo feminino. Por breves pontifícios de 2 e 3 de Outubro de 1777, de Pio VI, obteve a Misericórdia dois altares privilegiados: o da Visitação e o de S. João de Deus. Em 1798 já o hospital estava muito arruinado, necessitando de substituição dos pavimentos e dos tetos de madeira.
A Mesa reunida em 1 de Janeiro desse ano, deliberou mandar executar as obras necessárias, despendendo nelas a quantia de 300$000 reis que lhe havia sido legado em testamento em 1794, pelo benemérito Padre Manuel Mendes beato. A Santa Casa da Misericórdia esteve instalada nas dependências da Igreja da Rainha da Rainha Santa Isabel até ao ano de 1835. Tendo-se tornado insuficiente as instalações do hospital e aproveitando a circunstancia de haverem sido extintas em 1834 as Ordens religiosas deliberou, a Mesa, em sessão de 5 de Setembro daquele ano, dirigir às cortes uma representação solicitando a troca do edifício da Misericórdia pelo do convento de Santo António dos Capuchos. 
Não conseguiu, porém, o deferimento da pretensão e, em sessão de 6 de Outubro do mesmo ano resolveu pedir as instalações do convento da Graça. Foi concedida, pelo Ministério da Fazenda, em portaria de 9 de Julho de 1835, a permuta dos edifícios e, em portaria de 18 de Setembro do mesmo ano foi autorizada a transferência da Misericórdia para o antigo convento da Graça. Foram mudados os sinos e algumas imagens de santos, entre as quais a da Padroeira da Misericórdia.
(Continua)
   Recolha de dados: Castelo Branco na História e na Arte” de Manuel Tavares dos Santos
O ALBICASTRENSE

CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO

Do livro "SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA TOPONIMIA ALBICASTRENSE NO SÉCULO XVI", da autoria de Manual da Silva Castelo Branco, retirei o texto sobre o antigo convento de Santo António, que pode ser lido nesta publicação. 
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Foi fundado em 1562 o mosteiro de Santo António dos Capuchos por D. Fernando de Meneses, comendador e alcaide-mor desta vila. Este introito, fornecido em 1853 por Porfírio da Silva, sem esclarecer o fundamento de seu assento, vai ser repetido pelos seguintes autores, embora por vezes com algumas reservas, em virtude da inscrição latina existente no pórtico da entrada principal: “Este mosteiro, cujos fundamentos foram lançados pelos frades, foi depois continuado por António, o qual (mosteiro) durará para sempre…” 
Daqui, conclui António Roxo (1890) que o fundador de parte e não se doto o convento foi um António e não um Fernando.
O Dr. J. V. Mendes de Matos (1972) indica a mesma data da fundação, reportando-se á “Geografia Histórica” de D. Luís Caetano de Lima; e teria obtido idêntica informação na “Descrição corográfica do reino de Portugal”, por António 
de Oliveira e em outras obras congéneres, bem como, naturalmente, nas Crónicas da Ordem, de entre as quais me refiro apenas à “Crónica da província da Piedade, primeira Capucha de toda a Ordem e Regular Observância do nosso seráfico Pe. S. Francisco, por fr. Manuel de Monforte (1695).
Aqui se refere, entre outras coisas, que “na capela maior da igreja tem o dito fundador sepultura e sua mulher D. Filipa de Mendonça, com letreiro que o declara”. Assim o parece confirmar o seguinte registo paroquial da igreja de Sta. Maria de Castelo Branco: A 28.9.1643, faleceu D. António de Meneses, comendador e alcaide-mor desta vila, fez testamento; é seu testamenteiro D. Jerónimo Coutinho e herdeiro seu filho D. Fernando; jaz no convento de St. António na capela-mor em o carneiro que tem nela.
Talvez este D. António, filho, herdeiro e sucessor de D. Fernando, o indigitado fundador, tenha continuado as obras que seu pai patrocinara e, dai, a razão da Lápida atrás referida… Encontrei muitas outras notícias sobre o convento, quer nos registos paroquiais dos finais quinhentos, como provenientes de documentação diferente. Assim, no processo da Inquisição de Lisboa conta Brites Aires, vemos que, “a 14.4.1579, no mosteiro de Santo António da Ordem da Piedade da vila de Castelo Branco, dos muros para fora, estando ali o Ldº Marcos Teixeira, inquisidor, perante ele apareceram várias testemunhas… (Processo nº 1760)"
O ALBICASTRENSE

segunda-feira, novembro 03, 2025

IGREJA DA MISERICÓRDIA VELHA – (3/5)

Embora já tenha publicado em 2009 a história desta igreja, vou fazê-lo de novo, pois a tristeza em que ela se encontra assim o exige. Como o texto é um pouco longo,  vou fazê-lo em cinco publicações. 
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(Continuação)

III - No dia 18 de Abril de 1631 foi lavrado um auto do qual consta que estando o Provedor Simão da Silva Almeida e mais irmãos da Mesa e a maior parte da Irmandade junta para irem ao Enterro do Nosso Senhor Jesus Cristo, por ser em Sexta-feira da Paixão, como era costume na vila, deliberaram dar inteiro cumprimento ao que Sua Majestade dispôs em sua Provisão de 10 de Agosto de 1630, na forma seguinte.
“Que para o recebimento e aprovação dos irmãos que ande ser admitidos se ponham dois vasos no meio da Igreja e se dê a cada irmão uma fava e um grão. E as favas aprovarão e os grãos reprovarão. E o irmão que for votar lançará no vaso que estiver despachado para a eleição do Irmão o que lhe parecer. E o que lhe ficar na mão lançará no outro vaso, para que desta sorte se não dê satisfação a subornos se os houver e cada um possa votar livremente como lhe parecer em sua consciência.
E depois, o Provedor e Irmãos da Mesa aprovarão o que acharem no vaso reputado para a eleição de tal Irmão e achando mais favas que grãos ficará o Irmão admitido. E achando pelo contrário, mais grãos que favas ficará excluso.
A Confraria da Misericórdia jamais se eximiu ao rigoroso cumprimento dos preceitos, do compromisso, concernentes á realização de varias cerimonias religiosas. Era costume efetuar-se, no dia 2 de Junho, a festa da Visitação de Santa Isabel, Padroeira da Misericórdia; em 12 de Novembro celebrava-se um ofício de nove lições por alma dos Irmãos falecidos e, em quinta-feira de Endoenças, a procissão dos penitentes ou dos fogaréus. O compromisso de 1663 descreveu pormenorizadamente a organização desta procissão. São deste estatuto os seguintes trechos:
A qual operação se fará diante de toda a Irmandade. E nenhum Irmão será admitido senão no dia de Santa Isabel e Sexta-feira de Endoenças. E antes de se assinar o termo da aceitação e juramento, habilitará em Mesa sua pessoa. E que todo o Irmão que faltar à procissão das Endoenças, enterro do Senhor ou de qualquer Irmão que falecer, não tendo licita causa, pague dois arráteis de cera. E não se cobrando o Provedor, ele próprio pagará da sua casa. Depois se fez este termo que todos assinam”.
Da leitura dos documentos transcritos pode inferir-se que nas eleições realizadas em Portugal alguns séculos antes da instituição do parlamentarismo já havia mistificações semelhantes ás que originaram o descredito daquele sistema político.
Irão alguns fogaréus por uma parte e outra de toda o procissão e com eles irá todo o aparelho que for necessário para continuarem com luz todo o tempo. E os Irmãos que vão governando terão cuidado de os ir dispondo em espaço conveniente e de os mandar prover quando lhes for necessário".
“Nenhum Irmão levará consigo pagem ou criado, de maneira que fique dentro na procissão, pela indecência que nisso há e a desordem que pode causar".
“A procissão sairá da Misericórdia direita à Praça, Rua do Relógio, à Igreja de S. Miguel o Anjo, dali à Nossa Senhora da Graça, dai pela Corredoura à Rua dos Ferreiros até à Praça, toda a Rua de Santa Maria, Rua das Cabeças, tomando o Arressário até à Igreja de Santa Maria do Castelo, donde voltará pela Rua de Ega, até se meter na Misericórdia, visitando com oração o Santíssimo Sacramento nestas Igrejas e nas demais que ficarem no caminho por onde passar de maneira que mova a devoção a todos os que acompanharem e se acharem presentes
”.
A procissão efectuava-se com grande luzimento, seguindo o itinerário estabelecido. Durante os sermões da Semana Santa era costume expor na Igreja o Santo Sudário a que se refere o seguinte documento: “Miguel Achioly da Fonseca Castelo Branco, professor da Ordem de Christus, do desembargo de El-Rei Nosso Senhor e Provedor dos Resíduos e Cativos nesta corte de Lisboa e seus termos, etc..."
"Certifico que o Sr. Luís de Sousa Brandão, Provedor da Santa Casa de Misericórdia da Vila de Castelo Branco, por via do Sr. Marcos Gil Frazão e dos irmãos da Mesa, deste presente ano, encomendaram se fizesse para a Santa Casa o Santo Sudário e indo-se desta cidade o Sr. Marcos Gil Frazão, irmão actual dos 12 da Mesa, me deixou encarregado fizesse e continuasse esta obra de piedade: o que fiz e por assistir à devoção da dita Irmandade e a servir, como devo, como irmão infinito dela, pedi ao Dr. João... (ilegível), Prior da Paróquia Igreja de S. Tomé desta cidade de Lisboa me quisesse fazer mercê (por ser muito afecto e devoto das ditas Religiosas) de me tocar e medir este Santo Sudário com o milagroso (ou verdadeiro) que esta no dito mosteiro da Madre de Deus desta cidade, e em que os moradores dela tem a devoção que a todos é notória, e ele, Padre Prior, mandou vir o Santo Sudário ao Convento da Madre de Deus e mo tornou a remeter, dizendo-me que não somente se tocara naquele Santo e verdadeiro do dito Convento mas que por uma noite inteira esteve junto e embrulhado com ele com muitas orações e lagrimas das Santas e Veneráveis Religiosas do dito Convento, que o mesmo aconteceu já com o Santo Sudário que esta na cidade de Turim, corte dos Duques de Saboia e Príncipes de Piemonte com o que nele mandou tocara Cristianíssima Infanta de Portugal, história bem sabida: que sendo o verdadeiro Santo Sudário o que estava na cidade de Turim, saíram ambos em tal forma (por milagre) que hoje não e sabe qual o primeiro e verdadeiro, se o que ficou e Turim se o que esta no mosteiro da Madre de Deus desta cidade de Lisboa". 
(Continua). 

Recolha de dados: Castelo Branco na História e na Arte” de Manuel Tavares dos Santos 
                                                            O ALBICASTRENSE

terça-feira, outubro 28, 2025

IGREJA DA MISERICÓRDIA VELHA – (2/5)

Embora já tenha publicado em 2009 a história desta igreja, vou fazê-lo de novo, pois a tristeza em que ela se encontra assim o exige. Como o texto é um pouco longo,  vou fazê-lo em cinco publicações.
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(Continuação)
II - Secundando os desvelados esforços do soberano, as autoridades de Castelo Branco organizaram a confraria da Misericórdia com os bens das outras confrarias, que se compunham de casas, terras de cultura, vinhas e olivais e cujos rendimentos anais eram os seguintes: Da confraria de Santo André, 6$185 réis e duas galinhas; da confraria de Santo Iago, 7$127 réis; da confraria de S. João, 4$821 réis; e da confraria de S. Pedro, 3$620 réis. Totalizaram estes rendimentos, portanto, a quantia de 21$753 réis, muito diminuta mesmo naquela época. Durante o século XVI foram um pouco aumentados os rendimentos com os legados de alguns benfeitores. 
Foi, porem, no século XVII que a Misericórdia consegui uma situação prospera com os rendimentos de avultados bens que lhe foram legados por algumas dezenas de beneméritos. Entre estes distinguiram-se, pela elevado valar dos legados, o Dr. Bartolomeu da Costa, tesoureiro mor da Sé de Lisboa e o Padre Manuel de Vasconcelos, prior da freguesia se S. Pedro de Torres Vedras. 
O Dr. Bartolomeu da Costa, a quem a Igreja deu o nome de Venerável, nasceu em Castelo Branco em 24 de Agosto de 1553. Pertencia à família do célebre Cardeal de Alpedrinha, D. Jorge da Costa. Faleceu em Lisboa 27 de Março de 1608, deixando todos os seus haveres à Misericórdia, por testamento feito naquela cidade em 30 de Abril de 1605, para a instituição de um Hospital de Convalescentes a instalar na casa da sua residência situada na Rua de Ega e que ficou conhecida pela designação de Casa do Tesoureiro Santo. Os seus bens constavam de duas casas, duas vinhas, seis olivais, noventa s duas terras de cultura e um padrão de juro de rendimentos de 240$000 reis pago pelo almoxarifado da Comenda de Cristo. O Prior Manuel de Vasconcelos era também natural de Castelo Branco. Faleceu em Torres Vedras em 13 de Agosto de 1647, legando à Misericórdia da sua terra, por testamento feito naquela vila em 6 de Agosto do mesmo ano, toda a sua avultada fortuna, então avaliada em 50 contos. 
No testamento impôs este benemérito, à Misericórdia a obrigação de construir e sustentar, na Praça Velha defronte da cadeia, uma capela para que os detidos pudessem assistir à missa. Não é conhecido o primitivo estatuto ou compromisso da Misericórdia. Em 1596 a Irmandade pediu a aprovação de um novo compromisso elaborado nos moldes do da Misericórdia de Lisboa instituída pela Rainha D. Leonor em 1498. Por alvará de 16 de Junho de 1596, do rei D. Filipe I, a Irmandade obteve a solicitada aprovação.
Os subornos nas eleições também não cessaram com o alvará de 1610. Em 1632 efectuou-se a reforma do compromisso, introduzindo-se-lhe as alterações que haviam sido feitas no dia da Misericórdia de Lisboa por ordem do Rei D. Filipe III. Desde os primeiros tempos da sua existência, a administração da Misericórdia nem sempre primou pelo zelo e pela honestidade: as suas numerosas propriedades distinguiam-se das outras pelo seu estado de abandono e pala incúria que revelavam. À medida que os bens da Misericórdia aumentavam mais se evidenciavam os abusos e os desmazelos. 
A ambição e a falta de escrúpulos de alguns mesários eram causa de subornos e desinteligências nas eleições da Mesa. Para por cobro a tais anomalias a Irmandade fez, em 1610, a seguinte petição ao Rei D. Filipe II de Portugal e III de Espanha. “Dizem os irmãos da Santa casa da Misericórdia da vila de Castelo Branco que Vossa Majestade mandou oferecer certidão autêntica da Misericórdia da cidade de Coimbra para se saber como se fazia a eleição, por despacho posto no cimo da perdição folha primeira, a que se referem folhas 3º verso e por ela consta fazer-se a eleição por escritos em vasos, os de maior condição em um e os outros de menor em outro: e destes um menino vai tirando os eleitos, ao quais, tomando juramento, elegem Provedor e Irmãos que aquele ano hão-de servir; e é costume santo e bom e por ele se evitam muitos subornos e escândalos que de se fazer doutro modo procedem a na Misericórdia da dita vila de Castelo Branco são mui contínuos e deles se espera grandes dúvidas e dissensões pelos subornos serem mui descobertos e antigos.
Pedem a Vossa Majestade, por serviço de Nosso Senhor, que lhes faça mercê mandar passar provisão para que a dita eleição, daqui para diante, se faça por escritos em vasos e deles por um menino se tirem os eleitos como se faz na cidade de Coimbra e outras partes e ser muito serviço de Deus e de Vossa Majestade e utilidade e quietação da dita Irmandade.”Pôr alvará régio de 2 de Outubro de 1610 foi deferido esta pedição, sendo Provedor o licenciado Domingos do Rego. 
Não obstante as intervenções do Estado realizadas em 1529, em 1584 e em 1624, a administração da Misericórdia continuou a ser escandalosa; em 1624 os lavradores queixam-se de que “os irmãos da Mesa tomam a maior parte das terras para si carregando-as no livro da Misericórdia sobre homens pobres que não tem boi nem vaca nem são lavradores, que depois lhes tornam a largar”. 
O Provedor da Comarca de Castelo Branco, Licenciado Sebastião da Fonseca, mandou suspender a eleição até nova ordem, em 1630, recebendo uma provisão do Rei D. Filipe, datada em 10 de Agosto daquele ano, na qual se determinava que “antes da eleição se fazer se apure o livro novo da Irmandade e depois de feita esta diligencia se proceda á eleição com a assistência do dito licenciado“.
(Continua)
                    Recolha de dados: “Castelo Branco na História e na Arte”
                                                     de Manuel Tavares dos Santos
                                                               O ALBICASTRENSE

quarta-feira, outubro 22, 2025

IGREJA DA MISERICÓRDIA VELHA – (1/5)


Embora já tenha publicado em 2009 a história desta igreja, vou fazê-lo de novo, pois a tristeza em que ela se encontra assim o exige. Como o texto é um pouco longo,  vou fazê-lo em cinco publicações.
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(I) Entre a Rua de Ega e a Rua dos Oleiros ergue-se a Igreja da Misericórdia Velha, cuja fachada principal está voltada para o lado do Poente, numa estreita rua transversal denominada da Misericórdia. Este templo tem atualmente por orago Santo António de Lisboa e foi, durante mais de três séculos, da invocação da Rainha de Santa Isabel.
Uma pedra de granito assente no seu pavimento, sob o arco da capela-mor, tem a seguinte inscrição: “Esta capela foi mandada fazer por Simão da Silva h… da Índia e mandou-lha fazer Anna Correia sua testamenteira á custa dos seus legados que manda os faça em seu testamento”.
Está ilegível o vocábulo que se segue ao nome do testador, supondo-se ser a designação do cargo que desempenhou na Índia. Simão da Silva era um fidalgo natural de Castelo Branco, muito estimado na corte do Rei Venturoso. Camião de Góis refere-se a este fidalgo, na sua crónica do Felicíssimo D. Manuel, narrando o facto de haver sido enviado como embaixador de rei de Manicongo, capitaneando cinco navios onde eram transportados ricos presentes do rei português e sendo portador de seguinte credencial:
Nos, D. Manuel, Rei de Portugal, etc., enviamos a vós, Simão da Silva, fidalgo da nossa casa, pessoa de que muito confiamos e a quem, por nos ter muito bem e fielmente servido, temos boa vontade, o qual escolhemos para vos enviar, por o termos conhecido por esforçado e de muita fidelidade e que vos dará de si boa conta… Muito vos rogamos que o ouçais e lhe deis inteira fé e crença em tudo o que de nossa parte vos disser e falar, assim como o fareis se por nós fosse dito e falado e em muito prazer o receberemos de vós, e nós esperamos em Nosso Senhor que da ida do dito Simão da Silva vós recebais muito prazer e contentamento e que em todas vossa coisas o acheis assim bom e verdadeiro servidor, como nós nas nossas e em todo o nosso serviço o temos achado, porque por isso o escolhemos para vo-lo enviar e muito vos rogamos que pois prouve a Nosso Senhor que por Sua misericórdia vos alumiar..."
Presume-se que Simão da Silva tenha falecido nesta embaixada pelos anos de 1512 ou 1513 e que a primitiva Igreja de Santa Isabel tenha sido edificada no primeiro quartel do século XVI. Em 1514 o Rei D. Manuel I instituiu o Misericórdia de Castelo Branco, cuja instalação foi feita numas casas anexas à Igreja da Rainha Santa.
Pretendendo aquele monarca saber com o que poderia contar para a fundação da Misericórdia dirigiu de Almeirim ao ouvidor do Mestrado da Ordem de Cristo a seguinte carta:
Ouvidor! Nós, El-Rei, vos enviamos muito saudar. Nós somos informados como pela pobreza e pouca esmola da confraria da Misericórdia de Castelo Branco a dita confraria não andava ordenada como cumpria ao serviço de Deus e bem da vila havia três confrarias de Santo André, da Santo Logo e outra de S. João que tinham muitos bens de que se mantinha um Hospital e diziam certas Missas e que, alem disse, sobejava renda e desse sobejo se podia prover e reparar a dita confraria da Misericórdia. 
E porque queremos saber como isto está, se é assim como nos disseram e se alem das despesas ordenadas sobeja alguma renda, vos mandamos que vades à dita vila e nos informeis de tudo bem declarado para provermos a isso como bem nos parecer.
Escrita em Almeirim a 16 de Fevereiro de 1514. Gaspar Roiz a fez, Rei”.
Foi o rei informado de que a população de Castelo Branco se propunha organizar a confraria da Misericórdia, pois decorridos seis meses foi recebida a seguinte mensagem:
 Juízes, Vereadores, Provedor, Oficias e Homens Boa da Nossa Vila de Castelo Branco: Eu, El-Rei, vos enviamos muito saudar. Nós vos temos escrito quando prazer e serviço receberíamos nessa Vila se ordenasse e fizesse a confraria da Misericórdia como em outros lugares principais dos nossos Reinos se faz. E posto que tenhamos sabido que vós o vareis assim e com toda a boa vontade, pois que com ela se faz tanto serviço a Deus, todavia vos quisemos escrever e fazer lembrança quanto obrigação temos a cumprir as obras de Misericórdia que em especial nos são tão recomendadas por Nosso Senhor e que tanto serviço de Deus quanto nela se fará a Ele e a Nós nenhuma pessoa s deve escusar de nela entrar e servir o tempo que for eleito e ordenado por principal e honrado que seja, porque por esses que sabem e podem de há-te ela ordenar e servir como em todos os lugares dos nossos Reinos se faz. 
E portanto vos recomendamos muito a quase todos e a cada um em especial que, olhando quando todos somos obrigados ao serviço de Deus, folguemos todos de entrar na dita confraria e a servir e ordenar e quanto mais honrado tanto com melhor vontade o deve fazer e não se querer escusar quando for eleito e ordenado porque se assim o fizer recebemos nisso muto desprazer e desse serviço. Escrito em Lisboa a 19 de Agosto de 1514. André Pires a fez, Rei.”
(Continua)

Recolha de dados: “Castelo Branco na História e na Arte”
de Manuel Tavares dos Santos
O ALBICASTRENSE

TOPONÍMIA ALBICASTRENSE NO SÉCULO XVI - (I)

SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA TOPONÍMIA  ALBICASTRENSE NO SÉCULO XVI Recordar um excelente trabalho de Manuel da Silva Castelo Branco, sobre a ...